segunda-feira, 24 de dezembro de 2007
Crônicas de Charlemagne - "Um Grande Amigo"
No dia 18 de dezembro acompanhei o féretro e vi sepultar um amigo. Um dia antes eu o vi estirado sobre o piso de cimento frio e duro, no galpão onde mantinha seus galos de briga: Vestia surradas bermudas e calçava singelas sandálias azuis, muito azuis; seus olhos redondos, abertos, brilhavam como se refletissem a resplandecência eternal da vida para a qual acabara de despertar; tinha as mãos sobre o peito nu, talvez na tentativa de reorganizar os batimentos de seu generoso coração em descompasso, ou talvez para conter a rebeldia de suas fibras de textura tão amorosa; de sua boca aberta era como se estivesse a brotar o seu “OH!”, de surpresa e espanto, com o qual costumava saudar os acontecimentos inusitados. Ao lado das gaiolas dos galos de briga indiferentes, viveu os instantes da extrema solidão humana, ergueu um último brinde à vida, sorveu o derradeiro e amargo gole.
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